sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

No more bets

Há alguns anos, quando eu era croupier num cassino nos Estados Unidos, aconteceu uma história inusitada.
Eu "dilava " black jack e naquela noite eu estava especialmente feliz.  

Era um fim de semana de casa cheia e boas gorjetas. 

Eu ocupava a última mesa do "pit", a que ficava bem ao lado da roleta. 
As pessoas também estavam felizes e era uma gritaria só!
Na minha mesa estava um grupo bem animado e entre eles, uma senhorinha que lá pelas  tantas recebeu dois oitos.
" Split " ela pediu.
Split é a jogada na qual a gente separa as cartas,  fazendo com que cada "mão" vire outra aposta separada e aí você  recebe mais uma carta para cada um daqueles oitos.
No black jack sempre se "splitam " os 8!
Virei a outra carta e veio mais um 8.
"Split"
Carta virada,  8!
"Ohhhh! "
"What a chance? ! " ninguem acreditava! "Nao tenho mais dinheiro!" - ela se lamentou. 
"Split" alguém gritou do outro lado da mesa, jogando uma ficha p ela.
A esta altura ninguém mais estava prestando atenção no seu próprio jogo.
Todo mundo estava vidrado naqueles oitos. Todos apertados no último spot.
As cartadas se seguiram, não saíram outros oitos,  a carta amarela que indicava que eu deveria embaralhar todas as cartas na próxima jogada saiu e, inacreditavelmente, para indignação geral, a banca (eu) fez 21 e acabou com a festa de todo mundo.
Estava acabado! Todo mundo perdeu suas apostas!

"I'm so sorry!" - Foi a única coisa que eu consegui dizer.
E  estava sentida mesmo! Desolada.
Enquanto eu embaralhava as cartas de novo, para recomeçar o jogo, o pessoal da roleta estava frenético!
"Place your bets!" gritou o croupier.
" se eu fosse você,  ia lá e apostava o que sobrou no 8!" Eu disse.
"Naaaooo! É só uma ficha de 5 dólares!"- a senhorinha estava inconsolável -"acho que vou pra casa", decretou.
Fiz um muxoxo e insisti: "eu apostaria!"
Ela hesitou, ficou ali olhando até o croupier anunciar "no more bets!"
A bolinha parou de saltitar e foi girando devagar até parar no número... 8.
A senhora nem conseguia respirar.
Meu coração parou por um segundo e graças a Deus o meu substituto bateu no meu ombro me dizendo que era hora do intervalo.
Fui tomar um café em silêncio e nunca mais esqueci daquela senhora e daquele sentimento no ar.

Aquele arrependimento do não vivido, do não tentado...

Hoje eu sei exatamente o que ela sentiu!


A diferença é q eu apostei!
Corri e apostei.


Estava de olho no 8, pensei no oito.  Alguem me suprou no ouvido "aposte no 8", mas eu sou teimosa e apostei no 4.
Ahhh, o 4 é o meu número da sorte!  Sempre foi.
E quando eu ouvi o "no more..." joguei as fichas no 4.
...

Deu 8!
Desencontro com a sorte?
Destino?
Nao sei!
"É da vida,  meu bem" - ouvi alguém dizer. 

Vou ali ver se ainda dá pra comprar mais algumas fichas!


Volto já!


Um comentário:

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