Recebi de um amigo, indignado, no fim do ano passado. Ele estava indignado com coisas que continuam acontecendo. Todos os dias, em todos os voos, em todos os lugares e como na semana passada foi dia do comissário, achei que era um bom gancho para trazer à tona essa discussão.
Não a dos celulares à bordo, isso é só o gancho, mas a atitude de cada um diante de pequenas coisas erradas, de pequenas corrupções.
Tenho muita coisa para escrever sobre isso que ficarão para outros posts. Hoje, a tela é dele !
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O que fazer ?
O que fazer diante do que te incomoda ? Brigar ? Contar até 10 ? Chamar o responsável e exigir que o correto seja cumprido, observado, respeitado ? Fazer cara de mau para intimidar o infrator ? Ou o que ? Aceito sugestões, porque não estou aguentando ficar sem saber como agir.
Não quero ser omisso, mas também não quero ser chato. Me incomodo com o que é errado. Seja em casa, no trabalho, na rua, no trânsito, na política, ou no avião. Especialmente sobre este último, eu gostaria de relatar uma situação recente. Na verdade, é mais que recente, é presente, está acontecendo agora.
Acabei de embarcar em um avião para uma viagem a trabalho e presenciei algo que me incomodou demais. Tive que me segurar na poltrona e olhar para o outro lado para não dar uma porrada no idiota que está sentado na outra fileira.
Enquanto a tripulação anunciava que já tinha fechado as portas e que iniciaria os procedimentos de segurança, com apresentação das normas e vistoria da observância das mesmas, bem como orientação àqueles que necessitassem, o referido idiota conversava empolgadamente com um amigo e manuseava seu celular mostrando-lhe fotos de um evento.
Contudo, já era hora de todos desligarem seus equipamentos eletrônicos para que interferências eletromagnéticas não colocassem em risco a segurança de todos, inclusive a minha. Talvez por isto eu tenha me incomodado tanto.
Após os procedimentos de segurança, todos estávamos inseguros. Isto porque o referido idiota não desligou seu celular e ainda lançou mão da sua inseparável GoPro para filmar a decolagem pela janela do avião.
Sinceramente, fiquei muito incomodado. Tentei chamar os comissários de voo, discretamente, como já fiz em outras oportunidades semelhantes, mas não obtive êxito. Pensei em apertar o botão de “chamada de comissários”, mas o avião já havia decolado, não sendo mais possível que eles desafivelassem seus cintos, nem levantassem de seus assentos, sob pena de coloca-los em perigo.
Cogitei falar diretamente com o idiota, ou mesmo com seu amigo, que estava sentado mais próximo a mim. Eu podia falar com gentileza, ou com grosseria, podia não falar e, simplesmente, dar-lhe uma porrada, que era minha verdadeira vontade.
Mas o que eu fiz ? Me contive. Foi doído, sofrido, difícil, escroto, uma merda. Então, resolvi escrever. Para que ? Sei lá. Talvez para enviar para a companhia aérea, ou para um jornal, ou para mostrar ao meu terapeuta, ou mesmo só para mim. Não sei. Só sei que isso não pode ser assim, as pessoas desrespeitam as regras descaradamente. Roubam e subornam, deturpam e sonegam, enganam e trapaceiam, traem e desrespeitam. Fazem isso tudo e muito mais na certeza de que não serão descobertas, com o objetivo de sempre se beneficiarem, de serem sempre mais espertos. Será a “Lei de Gerson” ? Ou somente a certeza da impunidade ?
Será que só eu me incomodo ? Não ! Certamente há outros que também se incomodam, se indignam. Mas o que eles fazem ? Sei que muitos viram políticos, ou protestam nas ruas, ou se organizam em movimentos civis ou instituições religiosas, políticas ou sociais. Mas o ponto em questão é outro. Meu questionamento não se refere a uma ótica macro, mas sim micro. As perguntas são: - “O que fazer no dia a dia ? Nas pequenas coisas ? Devemos ignorar ? Ou agir ? Vamos nos tornar chatos ? Ou vamos dar o exemplo ?”
Refiro-me a situações cotidianas, tais como alertar alguém que tenha jogado lixo no chão, ou desrespeitado um sinal de trânsito, ou tratado mal um idoso, ou privilegiado alguém mais abastado em detrimento de alguém mais simples, ou alguém que fume em local proibido, ou mesmo alguém que não desligue o celular durante um voo.
Por falar nisso, é evidente que desliguei meu celular durante a decolagem e o pouso. Mas não pude me conter em fazer este relato no momento em que a tripulação informou ser possível utilizar meu celular no modo avião ou off line.
Falando nisso, também não pude me conter ao antever a mesma situação ocorrendo durante o pouso, como já havia ocorrido na decolagem. De fato não me perdoaria deixar de agir novamente diante daquele idiota.
Então, quando a equipe de comissários iniciou os procedimentos de segurança para o pouso, chamei uma das comissárias e perguntei se era necessário desligar o celular e ela me respondeu positivamente, retruquei questionando se isso valia para todos e ela, novamente, respondeu-me que sim. Foi aí que aproveitei para indicar que havia um passageiro próximo a mim que não respeitara tal regra durante a decolagem e que certamente também não respeitaria durante o pouso.
Diante dessa informação, para meu deleite, ela foi acertiva com aquele idiota. Mandou que ele desligasse o celular e a câmera, que já estava pronta para filmar o pouso. Confesso que me senti aliviado e fiquei encarando ele, para deixar claro que eu estava de olho no cumprimento da regra e que eu o vigiaria, enquanto pudesse. Fiz questão que ele percebesse que fui eu que avisei à comissária.
Fiz a coisa certa ? Não sei. Só sei que não me faria bem ficar inerte, omisso, deixar de lado, fingir que não era comigo, fazer que não me importava, contar até 10, ou seja lá qual for a desculpa daqueles que lavam suas mãos e colocam suas cabeças no travesseiro achando que não era sua responsabilidade.
Tenho certeza que era minha responsabilidade sim, afinal de contas, segurança de voo é coisa séria, a minha segurança é coisa séria. Se eu não cuidar de mim, não garanto que outros o farão.
Por fim, para quem não sabe, vale destacar que equipamentos que emitem sinais magnéticos interferem no pleno funcionamento de outros equipamentos semelhantes, tais como celulares, televisores, rádios e qualquer coisa que funcione com Bluetooth ou Wifi ou ondas curtas ou sei lá mais o que... Logo, é óbvio que celulares ou tablets podem atrapalhar a comunicação dos aviões com a torre de comando e colocar em risco a segurança aérea. E o que é pior, a minha segurança.
Aos idiotas de plantão, fica o aviso: - EU ESTOU DE OLHO !
Felipe
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