quarta-feira, 28 de maio de 2008

Tratamento de choque II

Quando li isso , estava no vôo - Brasília-Rio, ainda emchoque e triste por todos os acontecimentos da semana passada.
As vezes parece que os anjinhos estão mesmo olhando p/ gente! Porque uma passageira esqueceria uma revista justamente com o texto que eu precisava ler???

É... anjinhos!

aí está, na íntegra , o texto do qual estou falando.

Escrito por Ailin Aleixo,

O ATOLEIRO DO PASSADO

"Tempos de definição são difíceis. Exigem de nós energia que por vezes não temos - não é todo dia que queremos lutar contra sentimentos díspares, complicados; que desejamos nos perguntar se realmente o amor acabou, se o que sobrou foi só carinho e preocupação ou se ainda existe um resquício mínimo que guarda em si a possibilidade do renascimento. Não é todo dia que temos fôlego para questionar o que fizemos de nossa vida até aqui e qual o rumo que realmente queremos dar a ela. Cansa. Exaure.
Separar-se de alguém que se amou demais é experienciar uma cisão que muda toda uma maneira de ver o mundo: lá se vai a crença de um amor que resiste a tudo, e fica um gosto estranho de fracasso, como se as emoções, e as pessoas, pudessem ser avaliadas em termos tão maniqueístas. Separar-se de alguém que se amou demais é, antes de mais nada, triste. Mas tristezas, por mais fundas que sejam, passam. Desde que não as alimentemos.
A forma mais comum de alimentá-las é insistir em um contato nocivo por nos trazer alento, um tanto duvidoso, mas um alento: a voz conhecida, as palavras um dia tão queridas, o choro que sabemos como estancar, a risada que nos lembra dias mais ensolarados (nos sentimos mais acolhidos com a segurança do passado conhecido, com todos os seus problemas, do que com o vislumbre do futuro). Alimentá-las é achar que isso pode, em algum nível, fazer bem para algum dos dois. É como manter vivo um paciente com falência cerebral na esperança de que um milagre o faça acordar sorrindo, inteiro. Dói todos os dias em que isso não acontece. E dói mais ainda quando, finalmente, ele morre - mas , então, pelo menos, todos estão livres para seguir a vida.
A verdade é que, enquanto não decidimos se acabou ou não, se queremos aquela relação de volta (com todas as idiossincrasias, neuroses e desgastes que nos fizeram partir) ou se ela faz parte do panteão do passado, nada anda. Atolamos. Ninguém novo pode entrar, arejar os dias. Nem sozinhos ficamos bem. Só o vulto constante da tristeza nos acompanha, mesmo nas horas mais alegres - ela sabe que, a qualquer momento, a guarda baixará e ela terá espaço suficiente pra se instalar. Enquanto não deixamos o passado para trás, não há futuro."

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