terça-feira, 21 de maio de 2013

Amor à primeira vista - 30 anos depois

Gustavo amava Gabriela que amava Rogério
Que amava Larissa que amava Márcio que não amava ninguém...
Gustavo se casou com Tetê, Gabriela abriu uma academia, Rogério passou num concurso e foi morar em Brasília e a mãe de Márcio, que não tinha entrado na história, se apaixonou à primeira vista (de novo!), 30 anos depois, pelo mesmo homem.

Célia e Carlinhos tinham sido namorados na adolescência. Namoraram muito tempo e até tinham planejado um casamento.  Véu, grinalda, igreja, tudo como mandava o figurino. Até que um dia, numa conversa franca durante um jantar, Carlinhos, como quase todo menino que pensa que já é homem e está pronto pra casar, amarelou.
Ponderou que eram muito jovens, que precisavam de mais tempo, aquele blábláblá já conhecido de toda mulher que já viu seu príncipe encantado virar sapo às vésperas de subir ao altar.
Na época, o mundo de Célia ruiu. Passou um tempão sem comparecer às festas de família só para não ter que responder à recorrente inconveniente pergunta - " Mas o que aconteceu? Não vai mais ter casamento mesmo?" - Chatos de plantão !
Não! Não teria mais casamento nenhum!
O tempo passou e como ele sempre cura tudo, Carlinhos ficou lá, guardado na gavetinha de memórias.
Célia casou, teve Márcio, separou, casou de novo... e numa tarde chuvosa de sábado, uma semana depois de ter descoberto um câncer, viu a solicitação de amizade de um tal Carlos Campanário no sua página do facebook.
 " Carlinhos? Não! não pode ser! "
Olhou as fotos e constatou : era ele mesmo! Médico! Oncologista! Quanta coicidência!
Célia não soube bem porque mas percebeu que suas mãos estavam frias e seu coração acelerado.
"Que besteira!" Pensou. Clicou em aceitar e um minuto depois uma janelinha se abriu no chat:

- Meu Deus! Quanto tempo! Não acredito que é mesmo você! - dizia Carlos
- Nem eu! como você está? Onde você está? Por onde esteve todo este tempo? Casou?
- ahahaha quantas perguntas! todas são recíprocas! Casei! Tive uma filha. Separei. Casei de novo. Sou médico, votei a morar no Rio, quero te ver!
-Também casei, tenho um filho. Separei. Casei de novo. Sou jornalista, acabei de descobrir que estou com câncer, preciso te ver!
- Daqui a uma hora no Arpoador! Consegue chegar? Mora longe?
-Não! moro perto. Consigo!

Célia desligou o computador e ficou alguns minutos perdida, sem saber o que fazer.
Porque tinha aceitado aquele convite? O que ia dizer ao Jorge, seu marido?
"Meu Deus! O que estou fazendo?" Pensou.
Ligou o computador de novo, mandaria uma mensagem dizendo que não iria... fechou o laptop. Entrou no banho. Ficou 15 minuntos deixando a água cair e tentando entender porque estava tão nervosa. Saiu do banheiro, entrou no quarto onde Jorge assistia sonolento a uma partida da série B, se arrumou e só avisou :
- Vou sair.
Não podia dar maiores explicações. Nunca soube mentir e explicar toda a história levaria muito tempo - e ele não entenderia...
Jorge não questionou. Achou que ela só estava precisando espairecer. Aquiesceu com um sorriso que Célia devolveu e continuou vendo seu futebol.
Meia hora depois Carlinhos e Célia estavam sentados no mesmo bar onde namoravam há 30 anos.
Corações acelerados, mãos suadas que não se soltavam, olhares cúmplices, conversa, choro...
Carlos queria cuidar de Célia, como amigo, como médico - queria ajudar, estar por perto... e Célia, de repente, se sentiu segura como há muito tempo não se sentia.

Voltaram para suas casas e contaram para seus respectivos companheiros sobre o reencontro.
Ciúmes, explicações, mensagens, telefonemas, consultas, outros encontros e a certeza de que estavam apaixonados - 30 anos depois, como da primeira vez.
E, como da primeira vez,  foi durante um jantar, numa conversa franca, que eles decidiram que não precisavam de mais tempo. Já não eram tão jovens e finalmente diriam "SIM" !









Um comentário:

  1. A introdução é baseada no poema "Quadrilha" , de Carlos Drummond de Andrade e a história é baseada em fatos reais! ;)

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